24 de julho de 2011

Amy Winehouse, 27 anos


"Nova integrante do Clube dos 27“ foi uma das manchetes escolhidas pela imprensa para tratar da morte de Amy Winehouse. Morte anunciada? Sim, mas nem por isso menos trágica, a que ocorreu no último sábado, 23. A cantora britânica foi encontrada morta em seu apartamento em Londres por causas ainda não conhecidas, mas suspeitas por todos que já ouviram seu hit de maior sucesso: “Rehab”. Se a presença da cantora no mórbido clube de astros do rock como Jimmi Hendrix, Janis Joplin e Kurt Cobain, que morreram aos exatos 27 anos, é questionável quando se compara o volume e originalidade da "obra", negar a relevância da cantora para a recente história da música pop é covardia.
Uma cantora que conseguiu resgatar neste começo de século a tradição das divas do soul. Esse foi o legado de Amy Winehouse, que por ser inglesa e branca era diretamente associada a Dust Springfield, mas com timbre vocal digno das grandes cantoras negras norte-americanas das décadas de 1950 e 1960 (Thelma Houston, Brenda Holloway, The Supremes...). Foi com o segundo e meteórico álbum “Back To Black“ (2006), produzido por Mark Ronson, repleto de canções autobiográficas e doloridas, que a cantora tomou espaço no cenário pop saturado de letras materialistas e corpos perfeitos. Com ele, Amy abriu caminho para que outros artistas de "atmosfera retrô” garantissem seu lugar no mainstream, sem que soassem deslocados de seu tempo, pois assumia para si esse papel. Se hoje alguns nomes como Adele, Duffy, Janelle Monáe e Mayer Howthorne são mundialmente conhecidos na cena “neo-soul”, parte da responsabilidade está sobre a figura pequena, cheia de tatuagens, com maquiagem pesada, montante de cabelo no topo da cabeça e figurino transportado dos tempos áureos da Motown.
Porém, as tormentas pessoais, os sofrimentos amorosos e o abuso de drogas transformaram rapidamente a figura copiada e elogiada de Amy Winehouse em uma crônica anunciada de morte, uma das mais assistidas e estranhamente aguardadas do showbizz na última década. Desde 2007 seus shows passaram a ser caóticos, suas idas e vindas a clínicas de reabilitação frequentes e sua imagem na imprensa do entretenimento perversamente delirante e deprimente.  Em janeiro deste ano ela esteve no Brasil, em uma breve turnê que dava sinais de uma provável recuperação definitiva. Sua breve história porém, mostrou o contrário. 

O lançamento do seu novo CD, que aconteceria nos próximos meses, foi cancelado pela gravadora e reprogramado para o final do ano, devido a incapacidade da cantora de enfrentar uma nova turnê. Recentemente na Europa, a cantora viveu seu último vexame, numa apresentação em que não conseguia se quer cantar uma música no palco. Neste final de semana Amy Winehouse sucumbiu aos olhos de todos, sem mostrar em quantidade seu talento intenso. Porém, conseguiu ser o nome inicial de um nicho na música pop que, pelo que parece, têm sido aperfeiçoado por um número crescente de novos nomes. Sua morte deixou em aberto inúmeras discussões próprias do nosso tempo, como a dependência química, problemas psicológicos, fama e exposição, ética na mídia... Todas menos importantes do que seu CD inédito que, sem dúvida nenhuma terá seu lançamento adiantado, pra fazer girar a máquina do entretenimento, essa que lucrou números astronômicos  com todos os geniais e autodestrutivos integrantes do “Clube dos 27”.

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