14 de setembro de 2011

Coração Chorus - por Flávia Santos

Desenho à caneta - Flávia Santos

Dar cabo de projetos com certeza não é dos meus pontos fortes. Das diversas ideias que tenho engavetadas, uma das mais legais é a de publicar uma revista colaborativa.  Uma edição dessas de papel, nada online, divertida, com panoramas inteligentes sobre diversos assuntos e sem nenhuma modéstia. Praticamente obriguei um punhado de amigos a escrever seus textos, para a edição de estreia. Mas, não me pergunte por que, a ideia foi para a gaveta.

A questão é que a maioria dos textos já sofreu com a breve passagem do tempo e não refletem mais a intensidade do momento em que foram redigidos. Porém, como a projeto da revista é realmente sensacional, um conto inédito de um escritor, ou ser humano sensível com as letras também estava nos planos da primeira edição. Sem pensar duas vezes, chamei a Flávia Santos que, além de ter os dois requisitos citados, é uma amiga que manja de arte, tem um livro de poesias na praça e joga futebol anos luz melhor que eu, ou seja, uma pessoa admirável. Não seria justo engavetar o conto com o projeto, uma vez que, o que foi escrito tem valor realmente literário, com missão de ser lido pelo maior número de pessoas possível. Permissão da autora concedida, eis o conto aqui, na íntegra. Quando a revista virar realidade, vou ter que insistir para que ela escreva outro, dessa vez dando-lhe garantias de que será publicado em papel.

Desenho à caneta - Flávia Santos

Coração Chorus

14h33m acabo de abrir os olhos num sábado, ao redor: livros, CDs, roupas sujas e limpas, tênis. Na cabeceira: ingressos de cinema do dia anterior e algumas moedas. Um conto para ser escrito em primeira pessoa; deixar a TV me ninar; te esquecer – anotados num bloco. E parece que o cansaço não acaba depois das horas de sono, fim de semana só começando: descansar ctrl + f.

Cabelo médio, nem curto nem liso, fios brancos, vinte poucos anos. Bom papo. Sintonia. Tênis, calça jeans, bar, cerveja – dia um. Cinema, café e cama – semanas. Inverno. E tudo findo: quarto, café e cinema. Cerveja, cerveja, cerveja.

E é neste momento que sinto este imenso vazio em bypass: nem saio de mim nem fico em mim, não vou a você, a ninguém. E por um tempo achei que isso de estar só era triste, tão triste que eu devia compartilhar em porres e lágrimas no bar, ficar cru ao ponto em que amigos oferecem o ombro e bem passado quando se afastam. Descer ao fundo de se segurar na rotina, essa era a parte triste da história – crtl z.

 E o menino que queria chegar às orelhas de um deus e dizer três coisinhas quais queres de criança que acha graça em piada escatológica cresce ligeiramente entre a sinfonia serrote dos operários, dos carros e das vozes de estranhos em transportes públicos gastos. Qualquer coisa fone de ouvido no talo, fastfood e sexo pago; qualquer coisa boca do lixo baixo augusta destilado – qualquer coisa. 

E você que me ensinou tudo isso que eu não sei dizer, tudo isso que é um calo colérico caetano de se ter com coração, essa coisa transcendental meia boca, essa coisa substantivo, essa coisa ai, essa coisa tão banal: S2. 

Escrever um conto em primeira pessoa que não diga absolutamente verdade alguma, coração algum. Escrever um conto nesta cidade em primeira pessoa sobre a solidão liquida pós- moderna. Escrever um conto em primeira pessoa em que a primeira pessoa seja invenção. Escrever um conto em primeira pessoa, piegas baseado em amar.

- Qual é o tamanho da tua dor?

4 comentários :

  1. =) -

    bem que eu não lembrava muito deste conto, até pra mim ficou novo. é que há certa desorganização no meu PC!! hehehehe. Mas façamos assim ó: devo-lhe mais um, ou mais uns, inéditos! deixemos a ideia descansar mas não morrer, quer dizer! A revista ainda sai!

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  2. Isto é demais para este pobre coração ...fico aqui flutuando nas tuas palavras...Obrigada

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  3. fico aqui flutuando nas tuas palavras... Obrigada.
    Noelia

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