13 de setembro de 2011

Um Conto Chinês

Convivência inesperada entre Roberto (Ricardo Darín) e o chinês Jun (Ignacio Huang) conduz comédia dramática argentina. Foto: Divulgação

Na Argentina, "conto chinês" é um termo comum usado para descaracterizar uma história, quando se desconfia de sua veracidade. Seria o equivalente a "história de pescador" que usamos aqui no Brasil. E "Um Conto Chinês", segundo longa-metragem do diretor Sebastián Borensztein, começa justamente com um acontecimento que beira o absurdo.

Numa tarde ensolarada, a bordo de um pequeno barco, um casal de chineses encontra-se em clima bucólico e, ao que tudo indica, o momento será celebrado com um pedido de casamento. Porém, uma vaca cai do céu e mata a chinesinha apaixonada. Simples assim, uma cena tão trágica quanto cômica. Depois da sequência aparentemente descabida, o filme apresenta Roberto (Ricardo Darín) um solitário, ranzinza e metódico dono de uma pequena loja de ferragens, que tem como um de seus passatempos, colecionar histórias recortadas de jornais.

Os dias e noites de Roberto são marcados pela rotina e num dia de particular diversão, em que come um sanduíche vendo as decolagens dos aviões perto do aeroporto, ele se depara com um jovem chinês (Jun, interpretado por Ignacio Huang)  em apuros, que não fala uma só palavra em espanhol. Relutante por um breve momento, Roberto se compadece e decide ajudá-lo. A partir daí o filme cresce e o humor surge pontual e certeiro. O roteiro se concentra na dificuldade de relacionamento de Roberto, diante da convivência forçada com Jun, e nas suas "saídas pela tangente" ante às investidas de Mari (Muriel Santa Ana), sua antiga e fulminante paixão. Alguns outros personagens aparecem aqui e ali, mas a trinca estabelecida é que conduz o filme em alta até o fim.

Assim como Selton Melo no Brasil, Ricardo Darín parece ser a cara do novo cinema argentino, protagonizando uma quantidade razoável de produções do país na última década. Muito provável porque é um excelente ator capaz de tornar, no caso desta película, um personagem rabugento em um ser humano interessante e totalmente compreensível. Ao final, as arestas das relações são eliminadas e a narrativa absurda lá do começo recebe sua justificativa. Um fino desfecho da trama, que confirma as atuações do enxuto elenco como a maior qualidade deste "Um Conto Chinês".    

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