28 de abril de 2013

Leminski!, por Caetano Veloso


Caetano escreveu sobre Paulo Leminski em sua coluna no jornal O Globo deste domingo, 28. Motivo? O livro "Toda Poesia" - reunião da obra poético do autor curitibano - está entre os mais vendidos no país. E, nas palavras do próprio Caetano, "ouvir dizer que um livro de poemas está vendendo assim no Brasil é escândalo."

Seguem alguns trechos:

"A primeira vez em que estive com Leminski foi em sua Curitiba natal. Aliás, por muito tempo eu o encontrava lá. Ele vivia com Alice Ruiz numa casa de madeira sem aquecimento. Eu aguentava o frio das altas horas depois dos shows empacotado em casacos grossos, camisetas sob as camisas de manga comprida, ceroulas, meias de lã e, às vezes, luvas. Acho que já não bebia nada. Ou talvez ainda bebesse um pouco nas primeiras vezes. Leminski bebia muito. Mas o que aquecia o ambiente eram suas palavras, seus olhares de profundo carinho desconfiado, sua risada rouca e o milagre de algumas canções que ele compunha com parcos acordes de violão."

"Leminski foi um menino prodígio do concretismo (os concretos o publicaram na revista “Invenção”, depois de um encontro literário em Belo Horizonte onde Haroldo de Campos o conheceu, ele ainda adolescente), entusiasta dos beatniks, personagem autoirônico da contracultura. Ele lutava caratê. Tinha uma cara de Europa Oriental. Mais oriental do que Europa. Tinha lido muito e continuava lendo muito. Era culto e apaixonado pelas letras."

"Leminski sempre atraiu jovens leitores para a poesia. Jovens de várias gerações. Reunida, sua obra poética parece ter juntado toda essa vontade de poesia que estava enrustida há décadas. Nem quero falar sobre os versos, os poemas curtos, os hai-kais, o tom de eterna circunstância de suas tiradas poéticas. Só depois de reler tudo junto e misturado."

Nenhum comentário :

Postar um comentário