30 de novembro de 2011

Entrevista - Bruno Batista, ele não sabe sofrer em inglês


Maranhense, nascido em Recife e atualmente "confortável" em São Paulo, Bruno Batista lançou em abril seu segundo disco, "Eu Não Sei Sofrer em Inglês".

A começar pelo título, o novo trabalho do músico é repleto de poesia, romance, bom humor e - o mais interessante - referências à cultura pop. Johnny Depp, Nova Daslu e Cristiano Dior são alguns nomes contemporâneos que estalam aos ouvidos durante a audição do disco autoral, que transita com segurança por roupagens modernas de ritmos tradicionais brasileiros, como o samba e o baião.

Com produção assinada por Chico Salém (guitarrista da banda de Arnaldo Antunes) e Guilherme Astrup (produtor dos discos de Bruno Morais e Andréia Dias), banda de apoio formada por Gustavo Ruiz, Márcio Arantes e Marcelo Jeneci; o álbum conta ainda com as participações de Zeca Baleiro, Tulipa Ruiz, Rubi e Juliana Kehl.

Em entrevista por e-mail, o cantor falou sobre sua ligação com o cinema (é muito fã de Tarantino), as participações especiais do disco, sua visão sobre o atual mercado da música e contou ainda algumas curiosidades da canção "Hilda Regina", uma das mais divertidas do álbum.

Sete anos separam sua estreia deste novo trabalho, como foi a preparação dele?

Acho que este hiato deveu-se, fundamentalmente, a duas questões: a necessidade de ampliar meu expectro musical e demais referências, e as condições necessárias para reunir as pessoas certas  para o trabalho. No caso, produtores (Chico Salem e Guilherme Kastrup), músicos (nomes como Marcelo Jeneci, Gustavo Ruiz, Márcio Arantes) e gravadora (YB Music). Isso demanda tempo e grana. Nesse ínterim, compus praticamente todas as canções que entraram no disco - e muitas ainda ficaram de fora - estudei canto e experimentei novas possibilidades para minha música. Encontrei conforto no atual cenário paulistano, repleto de músicos inquietos e destinados e criar um linguagem especial. Por isso quis me transferi para São Paulo, queria me aproximar deste movimento.  

Como surgiram as participações especiais de Zeca Baleiro, Tulipa, Juliana Khel e Rubi no novo trabalho?

Todas as participações (inclusive a do Zeca, meu conterrâneo) aconteceram através do Guilherme e Chico. Eu tinha muito pouco  acesso aos integrantes da cena paulistana até então, mas conhecia os trabalhos. À medida em que íamos formatando os arranjos, descamando as canções, pensávamos em nomes quem pudessem ter algo a ver e, naturalmnete, chegamos a estes artistas. Preciso dizer que, no plano pessoal, foi um dos pontos altos do disco. Todos foram muito generosos, o Rubi chegou a se emocionar (e emocionar a todos) cantando "Vaidade", a gravação da Tulipa foi na madrugada e ela com um astral incrível, assim como a Ju que, semanas atrás, participou do show de lançamento do álbum. Mas, apesar de tantos momentos raros, o encontro com o Zeca foi, provavelmente, o mais importante porque, se hoje sou compositor, devo a ele. É um dos meus grandes ídolos e tê-lo no meu disco é uma alegria sem par. 

O disco está disponível para download gratuito na internet. Qual a sua perspectiva sobre este novo cenário do mercado musical?

Acho que lutar contra este novo cenário é pegar a contramão da história. Sobretudo para artistas em projeção, a internet é uma ferramenta indispensável porque permite a circulação do trabalho em níveis inimagináveis para quem conhece os descaminhos do mercado independente. Eu mesmo costumo baixar discos (muito embore também ainda compre muito) e indico o meu para ser baixado. Acho que a confecção de álbum, atualmente, é um portfólio de luxo que, se bem disseminado, pode ser uma grande alternativa - quando não, a única.

"Hilda Regina" é uma das minhas faixas preferidas do álbum. A trajetória de trambiques cantada é bem divertida. Quem é esta personagem? 

Muito obrigado! Esta composição, como a maioria das minhas canções, é inventada, sem muita relação com a minha vida pessoal - muito embora tenha uma grande amiga chamada Hilda a quem a canção é dedicada. Mas ela nada tem de trambiqueira, muambeira ou afins, rs. Na verdade, inicialmente tratava-se de uma salsa, o que foi modificado no arranjo final. É uma das canções solares do álbum, com uma verve de humor que costumo explorar herdada, sobretudo, do cancioneiro nordestino jocoso (Luis Gonzaga, Genival Lacerda, Falcão) que costumava ouvir na infância no radinho de pilha da empregada.
  
"Eu Não Sei Sofrer em Inglês" é um disco repleto de referências ao cinema, à literatura e ao teatro. Qual a sua ligação com essas artes e como elas influenciam o seu trabalho?

Cresci num ambiente absolutamente musical. Meu pai é colecionador de discos de música brasileira, minha família é repleta de músicos sendo que um deles, Naeno, é um compositor brilhante e foi a minha primeira referência. Isto à parte, minha mãe é professora de literatura, de modo que também cresci rodeado por livros. A grande lacuna que havia na casa sempre foi o cinema, descoberto por mim tardiamente e que hoje é, possivelmente, a forma de expressão artística que mais fala à mim. Nas minhas canções, sempre faço alusões à obras ou artistas que me são importantes (como é o caso, por exemplo, de "Tarantino, meu amor") e acho que, de certa forma, acaba até se tornando uma marca. E preciso confessar que gosto deste caminho.


Ouça a canção "Hilda Regina":



O disco "Eu Não Sei Sofrer em Inglês" está disponível na íntegra pela Musioteca.

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