13 de junho de 2011

Que carreira seguir?

Os desafios da escolha profissional na adolescência


Estudantes realizam prova na primeira fase do vestibular da Unesp
Foto: Agência Estado

Em 2005, aos 17 anos, Tamiris Curzio precisava tomar uma das primeiras decisões importantes de sua sua vida adulta: a escolha da carreira profissional. Assim como parte dos estudantes adolescentes nessa faixa de idade - e no término do Ensino Médio - ela não tinha certeza do que queria “ser quando crescesse”. Sabia apenas que queria fazer um curso na área de biológicas ou saúde, mas as opções nessas áreas eram muitas. “Eu não sabia se ia fazer Nutrição, Biologia, Biomedicina ou Farmácia. E pra falar a verdade escolhi meio 'no susto' porque participei de vários simpósios, li muita coisa e no último dia de inscrição eu ainda não tinha decidido”, conta.

Optou enfim pelo curso de Ciências Biológicas. Hoje, graduada pela UNESP, seguindo os estudos no Programa de Aprimoramento da FUNDAP (Fundação do Desenvolvimento Administrativo) ela defende que a escolha da carreira profissional seja atrasada pelo estudante o máximo que ele puder. “Os nossos pensamentos e opiniões mudam muito de um ano para outro", defende. Em seu caso, as incertezas não cessaram depois de iniciada a graduação. “Na verdade a única certeza que eu tinha na Biologia era que eu gostava do curso, só. Então continuei. Muitas vezes pensei se talvez não fosse mais bem sucedida em outra profissão, até hoje penso. A questão financeira conta muito".

Pensando na segurança financeira que Max Barbosa, 32 anos, optou por um curso de Economia ao invés de Comunicação, sua primeira área de interesse no período do vestibular. Filho de professores, não sofria pressão por parte dos pais para escolher uma carreira, mas queria independência financeira. “Adorava cinema e já participava de cursos e grupos de curtas-metragens em Recife. Mas na mesma época recebi um convite para trabalhar em um grande banco. Daí as coisas migraram para prestar o vestibular para Economia. Foi meio automático", diz. 

Logo no começo do curso o jovem pernambucano percebeu que a área não era a sua “praia”, mas não podia abrir mão na condição de vida que havia alcançado.Teve que esperar uma nova oportunidade, migrar para o curso de Comunicação e então se realizar profissionalmente. Para ele, decidir a carreira profissional com 17 ou 18 anos é uma tarefa delicada. “Neste período da vida estamos descobrindo aptidões. e ao mesmo tempo tem a "pressão" de conseguir, definir uma profissão o quanto antes”.

Diego Dias é mais incisivo. “Com essa idade, você não tem a menor ideia do que significa mercado de trabalho ou ter uma carreira profissional". Pressionado pelos pais, o atual estagiário de Marketing de 25 anos, prestou vestibular para o curso de Jornalismo, que não pretendia fazer ao terminar o Ensino Médio. Logo no começo do curso teve vontade de desistir, mas no acabou se habituando às características da graduação e preferiu seguir até o final. “Percebi que era muito mais vantajoso ter dois diplomas do que desistir e começar do zero mais uma vez", conta.

Para a psicóloga clínica Danielli Morelli, optar pelo curso visando sucesso financeiro não é a melhor decisão. “Escolha profissional é uma área onde a ideia de custo-benefício não funciona muito. Investimos muito do nosso tempo trabalhando, fazer algo que não nos proporciona prazer e com o qual não nos identificamos realmente, trará com o tempo consequências fisicas e emocionais, como o stress e a depressão. Também é real a idéia de que quando fazemos o que gostamos acabamos tendo melhores resultados inclusive financeiros”, explica. 

No entanto, optar por uma carreira apenas porque se “gosta” também pode ser arriscado. "Fazer o que gosta deve vir acompanhado de talento para tal, não adianta nada decididir ser cantor lírico e não ter voz para cantar”, esclarece Morelli. Segundo a psicóloga, a escolha da profissão “envolve uma constelação de fatores: autopercepção, oportunidades, experiência, habilidades específicas e em especial uma observação consciente do que está acontecendo ao nosso redor. Quanto à questão financeira, planejamento é tudo, esforço também, talvez a gente demore mais para estudar o que deseja, mas se for a coisa certa, vale a pena esperar um pouco mais".

Foi o que fez o músico e livreiro José Rubens, que somente no começo de 2011 decidiu iniciar a primeira graduação. Aos 28 anos, no primeiro semestre do curso de Tecnologia em Gastronomia, ele abandonou conscientemente a vontade de seguir a profissão de engenheiro e de músico profissional. Deu aulas de música, fez economias no atual emprego e esperou as melhores condições para arcar de vez com os custos da carreira dentro da gastronomia, uma área que para ele desde sempre foi “latente”. “A grande vantagem de começar o curso já adulto é a maturidade. Dou muito mais valor à profissão e ao curso porque demorei a escolher. Não foi na pressão de ‘esse ano tenho que fazer vestibular pra alguma coisa’”, aponta. Um caso que foge da lógica de um sistema de ensino, que segundo Danielli Morelli é arcaico e “que não se adaptou ainda a uma adolescência cada vez mais longa” em que “somos empurrados para a faculdade cheios de idealizações sobre trabalho e uma autopercepção ainda muito capenga”.

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