31 de março de 2011

Você acha que CD de música indie não vende? O LAB 344 não.

Sérgio Martins - dono do LAB344
Foto: O Globo
Fora o grande poeta recifense João Cabral de Melo Neto, quem não gosta de música? Conhecer bandas novas, fazer conexões de estilos, ouvir artistas com trabalhos semelhantes, decorar letras... Nessa história de procurar novidades, baixar e comprar CDs, percebi que vários álbuns de que gostava eram lançamentos do LAB 344 aqui no Brasil. Depois dessa constatação fiquei curioso em saber algumas coisas, fui procurar as respostas, inclusive com o dono do selo e agora compartilho tudo aqui no PCdeBolso.


A história do LAB 344 é curiosa, como você pode conferir nessa matéria de 2009, que saiu nO GLOBO. O selo indepente surgiu depois que o 11 de setembro ameaçou a carreira do carioca Sérgio Martins. O então funcionário de aviação decidiu participar do programa de demissão voluntária, pegar sua grana, aproveitar seus contatos e o inglês fluente para arriscar uma empreitada ligada à música. Começou fazendo exploração para outros selos e gravadoras internacionais, editando no exterior discos de artistas brasileiros. E a partir 2009 com o lançamento do CD/DVD do Simply Red: Greatest Hits / The Greatest Vídeo Hits, passou a lançar artistas estrangeiros no Brasil e em toda a América do Sul.

A maioria dos artistas do catálogo do selo flerta com o universo indie / alternativo. Somente neste começo de ano, por exemplo, o LAB 344 já lançou por aqui os novos CDs dos tarimbados The National, Pavement, Interpol, Belle and Sebastian e também de novos nomes com boa repercussão no exterior, como é o caso do álbum de estreia do Two Door Cinema Club, de Karen Elson (esposa do guitarrista Jack White) e Contra, segundo trabalho do quarteto nova-iorquino Vampire Weekend. Enquanto o mundo se divide entre: categóricos ( os que já decretaram o fim do CD e contam os derradeiros dias de sua existência no mercado) e otimistas (aqueles que não cogitam a substituição da mídia física pelo arquivo digital, sempre fazendo comparação ao caso vinil x CD), Sérgio Martins mostra uma visão menos extremista da questão fonográfica:

Por que apostar em CDs de bandas novas, que tem a maioria do seu público vinculado aos downloads digitais? O som dessas bandas alternativas é o que há de melhor hoje na indústria da música. Até o Grammy 2011 se rendeu aos indies. Então por que não lançar?! Muitos baixam. E alguns gostam tanto do som da banda que acabam comprando o produto físico em um determinado momento. Esse é o barato de ser 'indie'... Não temos pressa. 'Contra' do Vampire Weekend foi lançado em Jan/2010 mas só conseguimos editar no Brasil em novembro passado, após termos ganhado a disputa pelo catálogo da Beggars, e mesmo assim já estamos na segunda tiragem, ou seja, existe uma procura. Tanto que acabamos de editar o primeiro disco da banda.

Como tem sido o retorno para o selo, com a aposta em um catálogo mais voltado para o público "indie"? Somos cautelosos. Nossos riscos são calculados, e ajuda um pouco quando conseguimos direitos não só para o Brasil, mas para toda a América do Sul. Se um disco não vender bem por aqui, poderá vender no Chile e na Argentina.

Quais são as novidades que o selo está preparando? Estamos assinados com os mais importantes selos indies do mundo, e vem muito coisa boa por aí. Este mês temos Warpaint e Karen Elson. Superchunk virá ao Brasil para a Virada Cultural, e vamos aproveitar para dar uma trabalhada no disco. Claro que além dos indies também temos um carinho especial pelo disco da Cyndi Lauper, e por outros que virão, como o novo do Duran Duran, e o primeirão do Queens of the Stone Age, ambos em Abril nas lojas.
 
 Sérgio Martins parece estar longe dos extremismos, ciente de que, quando se fala em mercado fonográfico o que se pode afirmar é que estamos no auge de um período de mudanças, sem nenhuma outra resposta definitiva. Por enquanto ainda existem públicos que não veem problema em adquirir tanto o arquivo digital, quanto a mídia física. Talvez o misto de saber trabalhar esse nicho, com uma visão equilibrada seja o segredo do percurso bem sucedido percorrido pelo selo até agora. Bom pra quem gosta de estar com os ouvidos sempre ocupados por novidades. 

Já o autor de Morte e Vida Severina que citei no início, ao escrever os versos "O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita..." no poema Os Três Mal-Amados, podia não gostar de música, mas você arrisca negar que nessas três breves linhas ele alcançou profundidade muito maior que milhares de novas músicas por aí? 

Aqui você confere o novo site do LAB 344, com rádio online e tudo mais!

2 comentários :

  1. Gene Marinho - Recife PE5 de abril de 2011 às 16:26

    Parabéns pelos comentários e a entrevista com Sérgio Martins da LAB. Valeu!!!!

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